Levantamento realizado pela FGV mostra que, entre 2016 e 2019, o retorno médio desses títulos ficou 1,35% abaixo do CDI. Os certificados de operações estruturadas (COEs) dos bancos rendem menos que os das plataformas de investimentos
Por Juliana Schincariol e Toni Sciarretta, Valor — Do Rio e de São Paulo
As emissões de certificados de operações estruturadas (COEs) seguem em crescimento no Brasil. No ano passado, o volume chegou a R$ 11,846 bilhões, 15,8% maior do que em 2019. Os produtos são anunciados, em geral, como uma aplicação com potencial de entregar retornos da renda variável — índices da bolsa de Nova York, ouro, fundos estrangeiros etc. —, mas com capital protegido e sem risco cambial, por associá-los a derivativos que mitigam os riscos.
Na prática, contudo, os ganhos com os COEs têm decepcionado e ficado abaixo do CDI. Um levantamento realizado Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (EAESP-FGV) mostra que, entre 2016 e 2019, o retorno médio desses títulos ficou 1,35% abaixo do CDI.
O estudo concluiu que, quanto mais complexo o COE, menor foi a rentabilidade no período analisado. Os produtos distribuídos por meio das plataformas de investimento tiveram um desempenho melhor do que os comercializados nos bancos de varejo. Enquanto os produtos emitidos e distribuídos por bancos ficaram, em média, 1,38% abaixo do CDI, os que passaram por intermediários (corretoras ou plataformas) tiveram retorno médio de 1,25% acima do CDI.
Se o ativo alvo tiver retorno negativo — o que não é raro —, o investidor recebe o capital aplicado, no caso das estruturas de capital protegido, mas deixa de ganhar o retorno de um investimento conservador no período. Normalmente, os COEs têm a duração de dois a cinco anos, sem resgate antecipado — a menos que seja vendido no mercado secundário, geralmente com alguma penalidade.
É o caso do COE do Morgan Stanley baseado no fundo Pimco Income promovido no fim do 2017 pela XP como oportunidade para diversificação com aplicação no exterior. O produto prometia multiplicar os ganhos do fundo que aplica em títulos do governo americano e corporativos com grau de investimento — portanto, de baixíssimo risco — em 5,3 vezes para o prazo de cinco anos. E isso com o capital investido protegido e sem variação cambial.
Só que o fundo emendou quase três anos de rentabilidade negativa devido à política de juros baixos nos EUA e o COE ficou no zero a zero a maior parte do tempo. A situação só melhorou no fim de 2020 com a alta das taxas dos Treasuries após a eleição do presidente Biden. Neste ano, chegou a render 6,47% — 2.790% do CDI — em fevereiro; em março, porém, a alta das taxas foi demasiada e o COE voltou a ficar negativo no ano, com perda de 1,18% (ante 0,34% do CDI) até 10 de março (último dado).
No estudo da FGV, da amostra analisada, 12 ativos tiveram os piores resultados, mas os nomes não foram divulgados. O período considerado refere-se à emissão de cada um deles até o vencimento, na janela de 2016 a 2019.
Substituto do CDB. Será?
“Por ser um produto de captação bancária, os COEs são propagados como substitutos ao CDBs no varejo. Muitos bancos têm aumentado as suas captações por meio de COEs sob o argumento de que vão oferecer rentabilidade maior do que o CDI”, afirma Alan De Genaro, professor da FGV.
A complexidade dos produtos também parece ter resultado desfavorável ao investidor, segundo o estudo. De Genaro aponta que os COEs formados apenas por opções de compra ou venda (call ou puts) ficaram em média 0,33 ponto percentual acima dos mais complexos. E também parece não haver benefícios de diversificação ao investir em vários COEs. Isso ocorre também na Europa, segundo Genaro. “Se o COE envolve muitas características, não é sinônimo de que será um produto melhor.”
Segundo Daniel Lopasso, chefe de COE da Acqua Investimentos, escritório de agentes autônomos ligado à XP, os produtos das plataformas normalmente rendem mais do que os bancários porque têm prazos maiores, o que permite acumular uma maior rentabilidade. Enquanto as plataformas trabalham com COEs de três a cinco anos, os bancos apostaram em títulos mais curtos, considerados mais palatáveis para a clientela. Lopasso afirma que 76% dos COEs distribuídos pela XP renderam 130% do CDI ou mais.
Na visão do diretor de tesouraria do Santander, Luiz Masagão, assim como uma ação ou um fundo de investimento, o COE não deve ser generalizado. O resultado vai depender da qualidade de cada produto. “O COE é um produto que permite colocar proteções e diversificações dentro de um instrumento simplificado e único para o cliente”, defende.
Segundo o executivo, que também é vice-presidente do fórum de negociação da Anbima, a preocupação da Associação hoje paira sobre como coibir a venda incorreta do produto. E todas as informações, incluindo taxas e liquidez, devem estar bem claras para os clientes.
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